sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Michael Jackson:Free at Last!

Free at last!
(Livre Afinal)


Do ser mitológico diz-se que nasceu em meados do século XX.
E que, tendo nascido homem, foi aos poucos transformando-se numa mulher.
No fim, tornou-se um ser de aspecto hermafrodita, com sexualidade indefinível.

Sabe-se que o ser mitológico nasceu negro e morreu branco. Foi, na infância,
um adulto: compromissos profissionais, responsabilidades, obrigações
e pressão foram experimentados desde cedo em doses altas.

Na maturidade, tornou-se uma criança: gostava de brincar, passear
em carrosséis e montanhas russas, ter crianças por perto e
jamais compreendeu exatamente do que se tratava o tal "mundo dos adultos".

Do ser mitológico diz-se que foi acusado de abusar sexualmente de crianças,
o que nunca se comprovou. O que se sabe com certeza é que foi brutalmente espancado pelo pai, na infância, e submetido por este a tortura e pressão psicológicas.

É comprovado que durante sua existência o ser mitológico ajudou crianças pobres e doentes, não só com dinheiro, mas com carinho e compreensão verdadeiros.
Com essas crianças comunicava-se da mesma forma com que
São Francisco de Assis conversava com passarinhos.

Do ser mitológico compreende-se que revolucionou a música pop mundial
ao elevar a música negra (é importante lembrar: não importa quantas transformações e mutações tenha o ser sofrido em sua existência,de, talvez o maior, artista da música negra norte-americana) a um status nunca antes alcançado:
qualidade musical irresistível, ousadia de produção, competência e
muito - muuuiiito - suingue.

Quincy Jones, músico, maestro e arranjador de excepcional talento,
ajudou o ser mitológico nessa jornada. Do ser mitológico aceita-se que
tinha habilidades múltiplas - dançava, cantava e compunha como poucos - e que
com elas conseguiu apaixonar pessoas do mundo inteiro, independente
de suas raças, classes sociais, nacionalidades, religiões, crenças etc.

Dele compreende-se que foi coroado rei pelos humanos e amado por estes
como um anjo.
A morte chegou-lhe como alívio, inadaptado que era ao mundo estranho que o amou e não o compreendeu.

Na morte sabe-se que a imprensa, que o criticara impiedosamente nos últimos anos de vida - e tanta atenção dera a suas bizarrices, idiossincrasias e excentridades -acabou por reconhecer que o que prevalecerá de seus feitos será tão somente a brilhante música que concebeu,cantou e dançou.

Diz-se por fim que, ao morrer, o ser mitológico livrou-se do corpo que era
ao mesmo tempo depósito de dons e talentos e também de dores e sofrimentos.
E que se lembrou, no último instante de vida, da frase do discurso de um grande
e admirável conterrâneo: free at last!

CD... Off The Wall, de 1979, o primeiro disco da fase adulta do ser mitológico,
e primeira parceria com o produtor Quincy Jones.
Está tudo ali: a riqueza da música negra, desenvolvida em décadas de trabalho
por gravadoras como a Motown - e a mistura com elementos de rock e pop.
É um disco que aprendi a amar graças a minha mulher, Malu - a quem dedico
esta crônica -, uma das maiores devotas de Michael Jackson
de que se tem notícia.
Ela já passou essa paixão aos nossos filhos, também admiradores
do grande músico negro norte-americano.



Tony Belloto

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